ATA DA VIGÉSIMA OITAVA SESSÃO SOLENE DA QUARTA SESSÃO LEGISLATIVA ORDINÁRIA DA DÉCIMA SEGUNDA LEGISLATURA, EM 10-8-2000.

 


Aos dez dias do mês de agosto do ano dois mil reuniu-se, no Plenário Otávio Rocha do Palácio Aloísio Filho, a Câmara Municipal de Porto Alegre. Às dezessete horas e quarenta e quatro minutos, constatada a existência de quórum, o Senhor Presidente declarou abertos os trabalhos da presente Sessão, destinada à entrega do Título Honorífico de Cidadão de Porto Alegre ao Senhor Edson Baptista Chaves, nos termos do Projeto de Lei do Legislativo nº 198/99 (Processo nº 3613/99), de autoria do Vereador Adeli Sell. Compuseram a MESA: o Vereador Paulo Brum, 1º Vice-Presidente da Câmara Municipal de Porto Alegre; o Senhor Diamarante Teixeira, representante do Senhor Prefeito Municipal de Porto Alegre; o Major César Cavalheiro, representante do Comando-Geral da Brigada Militar; o Senhor Victor Ernesto Schimidt, Diretor-Presidente do Hotel Plaza São Rafael; o Senhor Flávio Casaccia, Diretor da Câmara de Turismo; a Senhora Marutschka Martini Moesch, Coordenadora do Escritório Municipal de Turismo de Porto Alegre; o Senhor João Luiz Santos Moreira, representante da Federação das Indústrias do Estado do Rio Grande do Sul - FIERGS; o Senhor Ricardo Ritter, Presidente do Sindicato dos Hotéis, Restaurantes, Bares e Similares de Porto Alegre; o Senhor Edson Baptista Chaves, Homenageado; o Vereador Adeli Sell, na ocasião, Secretário “ad hoc”. A seguir, o Senhor Presidente convidou a todos para, em pé, ouvirem a execução do Hino Nacional Brasileiro e, após, concedeu a palavra aos Vereadores que falariam em nome da Casa. O Vereador Adeli Sell, em nome das Bancadas do PT, PTB, PMDB, PSB e PPS, externou sua satisfação em participar da presente solenidade, destacando o caráter empreendedor do Senhor Edson Baptista Chaves no desempenho de suas atividades profissionais e justificando os motivos que levaram Sua Excelência a propor a presente homenagem. Em continuidade, o Senhor Presidente registrou as seguintes presenças, como extensão da Mesa: da Senhora Glenda Wiedemann Chaves, esposa do Homenageado; do Senhor Victor Schimidt, Superintendente do Hotel Plaza São Rafael; da Senhora Joanita Schimidt, esposa do Senhor Victor Schimidt; do Senhor Marco Aurélio, chargista do Jornal Zero Hora; do Senhor Humberto Ruga, Presidente da Federação das Associações Comerciais do Rio Grande do Sul - FEDERASUL; do Senhor Vilson Noer, Diretor da Câmara de Dirigentes Lojistas de Porto Alegre; dos Senhores Décio Azevedo e Carlos Alberto Pires de Miranda, representantes do Jornal do Comércio; do Senhor Luiz Fontanive Ferreira, Vice-Presidente da Associação Cristã de Moços - ACM; do Senhor Antônio Carlos Malater Gomes, Diretor da Escola de Hotelaria e Turismo do Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial - SENAC; do Senhor Eugênio Machado, Diretor do Tsa Turismo da Skal Clube; da Senhora Diney Adriana de Oliveira, representante do Instituto Metodista de Educação e Cultura - IMEC; do Senhor Edni Oscar Schroeder, Diretor do Instituto Porto Alegre - IPA; de representantes da Diretoria do Hotel Plaza São Rafael; de jornalistas, representantes de Sindicatos e demais entidades presentes; de filhas, genros, neta e amigos do Homenageado. Em prosseguimento, foi dada continuidade às manifestações dos Senhores Vereadores. O Vereador Nereu D'Avila, em nome da Bancada do PDT, discorreu sobre aspectos relativos à vida pessoal e profissional do Homenageado, ressaltando as características pioneiras presentes nas atividades realizadas pelo Senhor Edson Baptista Chaves e destacando o empenho de Sua Senhoria em promover ações que beneficiem a todos os segmentos da sociedade porto-alegrense. O Vereador João Carlos Nedel, em nome das Bancadas do PPB e PSDB, manifestou apoio e solidariedade à homenagem hoje prestada ao Senhor Edson Baptista Chaves, lembrando que foi durante o período em que o Homenageado exerceu o cargo de Secretário Estadual de Turismo que tiveram início o Festival de Cinema de Gramado e a Califórnia da Canção. O Vereador Reginaldo Pujol, em nome da Bancada do PFL, salientou a justeza da homenagem hoje prestada ao Senhor Edson Baptista Chaves, reportando-se à aprovação unânime do Projeto de Lei que concedeu o Título Honorífico de Cidadão de Porto Alegre à Sua Senhoria e afirmando que o Homenageado, por todas as suas qualidades e feitos, demonstra ser merecedor da honraria com a qual hoje é distinguido. A seguir, o Vereador Paulo Brum, na presidência dos trabalhos, convidou a Senhora Glenda Wiedemann Chaves e o Senhor Diamarante Teixeira para, juntamente com Sua Excelência, procederem à entrega da Medalha e do Diploma referentes ao Título Honorífico de Cidadão de Porto Alegre ao Senhor Edson Baptista Chaves e, após, concedeu a palavra ao Homenageado, que agradeceu o Título recebido. Após, o Senhor Presidente convidou os presentes para, em pé, ouvirem a execução do Hino Rio-Grandense e, nada mais havendo a tratar, agradeceu a presença de todos e declarou encerrados os trabalhos às dezenove horas e doze minutos, convidando a todos para a Sessão Solene a ser realizada a seguir. Os trabalhos foram presididos pelo Vereador Paulo Brum e secretariados pelo Vereador Adeli Sell, como Secretário “ad hoc”. Do que eu, Adeli Sell, Secretário “ad hoc”, determinei fosse lavrada a presente Ata que, após distribuída em avulsos e aprovada, será assinada pelos Senhores 1º Secretário e Presidente.

 

 


O SR. PRESIDENTE (Paulo Brum): Estão abertos os trabalhos da presente Sessão Solene destinada a homenagear o Sr. Edson Baptista Chaves com a entrega do Título Honorífico de Cidadão de Porto Alegre.

Convidamos para compor a Mesa: o Sr. Edson Baptista Chaves, nosso homenageado; o Sr. Diamarante Teixeira, representante do Prefeito Municipal de Porto Alegre; o Major César Cavalheiro, representante do Comando-Geral da Brigada Militar; Sr. Victor Ernesto Schimidt, Diretor-Presidente do Hotel Plaza São Rafael; Sr. Flávio Casaccia, Diretor da Câmara de Turismo; Sr.ª Marutschka Moesch, Coordenadora do Escritório de Turismo de Porto Alegre; Sr. João Luiz Santos Moreira, representante da FIERGS e Sr. Ricardo Ritter, Presidente do Sindicato dos Hotéis, Restaurantes, Bares e Similares de Porto Alegre.

Convidamos todos os presentes para, em pé, ouvirmos o Hino Nacional.

 

(Executa-se o Hino Nacional.)

 

O SR. PRESIDENTE (Paulo Brum): O Ver. Adeli Sell está com a palavra, para falar em nome do PT, PTB, PMDB, PSB e PPS.

 

O SR. ADELI SELL: Sr. Presidente, Srs. Vereadores. (Saúda os componentes da Mesa e demais presentes.) É uma honra muito grande poder, nesta tarde, entregar o Título Honorífico de Cidadão de Porto Alegre ao Dr. Edson Baptista Chaves, e falar em nome do meu Partido, o Partido dos Trabalhadores.

A biografia, a trajetória do Dr. Edson é conhecida de todos que estão aqui, é conhecida pela Cidade de Porto Alegre. O que quero enfatizar é que é preciso expressar para toda Cidade a importância desta figura que aprendi a admirar, pelo seu dinamismo, pela sua perspicácia, pela sua visão de sociedade.

Título de Cidadão: esta palavra “cidadania” vem de muito longe, da Grécia, quando as pessoas iam à praça pública e falavam, se expressam, eram consideradas cidadãs. O Dr. Edson Baptista Chaves, na sua trajetória, em qualquer lugar onde tenha tido a possibilidade de estar como trabalhador, servidor, empreendedor e como uma pessoa que faz um trabalho social também, ele não é, apenas, uma expressão de cidadania, como, também, abre espaços para as pessoas e torna-as partícipes e verdadeiramente cidadãs. Isso é muito importante, Dr. Edson, porque o senhor que já passou em atividades de governo, que esteve na iniciativa privada, que passou por instituições educacionais e que participa em entidades não-governamentais, em todas essas esferas, o senhor sempre foi um exemplo para os seus amigos e as pessoas que o rodeiam. E, hoje, o senhor está no centro de algumas atividades da nossa Cidade que precisam ser, cada vez mais, enfatizadas, estudadas e apreciadas por nós.

O senhor, hoje, dirige o Porto Alegre Convention Bureau. Eu tenho a absoluta convicção que com o homem empreendedor que o senhor é, com as pessoas que o senhor traz para junto de si, com as pessoas que o senhor faz com que trabalhe com o espírito de elevar a Cidade de Porto Alegre para ser, efetivamente, a Capital turística do MERCOSUL. Nós temos esse potencial. O senhor sempre mostrou esse caminho, desde os tempos em que o senhor assumiu a Secretaria de Turismo do Estado, o senhor foi o primeiro Secretário de Turismo, foi um desbravador, como foi desbravador em tantas outras atividades. É extremamente importante para nós termos esse exemplo da bravura intelectual, esse espírito empreendedor e, mais do que tudo, esse espírito de amizade, de tolerância com as diferenças, com o contraditório. Sabendo fazer com que, dentro desse espaço turbulento que é a sociedade, e os anos e anos em que o senhor trabalhou exatamente nessa sociedade de conflitos, as pessoas das mais variadas posições politico-ideológicas que há algumas coisas que estão acima das disputas pessoais, das disputas partidárias, e que os governos passam; as idéias, os empreendimentos, os exemplos ficam e marcam esta Cidade.

Ao darmos esse título ao senhor, nesta tarde, nós estamos mostrando à Cidade que a sua trajetória, a sua vida foi marcante. Título Honorífico de Cidadão de Porto Alegre é porque o senhor honra as tradições mais caras desta Cidade, esta visão de vanguarda que nós somos para o CONESUL, para o Brasil.

Este Titulo de Cidadão é por demais merecido; merece o senhor pela sua atividade, por sua dedicação, pelo seu trabalho e, fundamentalmente, volto a repetir, por essa grandeza, por essa grande possibilidade que o senhor abre a cada dia para as pessoas que estão a sua volta, e mais do que isso, o senhor abre muitas e muitas possibilidades para a Cidade de Porto Alegre. Mostra que esta Cidade pode ser uma confluência, como é uma confluência de culturas, um caldeirão étnico e que precisamos a cada dia mais trazer visitantes para cá, que apreciem a nossa Cidade, que vivam o nosso rio, a nossa beleza, o nosso pôr-do-sol e que com o desenvolvimento e com o progresso nós possamos garantir trabalho, renda e vida digna para as pessoas, porque em todas as suas atividades - eu tenho observado - sempre esteve presente a preocupação com os seres humanos, com os seus semelhantes, seus irmãos, suas irmãs porto-alegrenses.

Porto Alegre lhe dá o Título de Cidadão, os Vereadores aprovaram por unanimidade, os seus amigos, as pessoas que estão hoje nesta tarde aqui lhe dão esse título e, eu tenho certeza, que esse título representa aquilo que Porto Alegre quer e quer hoje, à tarde, passar às suas mãos com muita honra e com muito orgulho. Eu fui o proponente e eu tenho a honra de dizer, nesta tarde, que Porto Alegre ganha mais um Cidadão Honorífico: Dr. Edson Baptista Chaves. Muito obrigado. (Palmas.)

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE (Paulo Brum): Queremos registrar a presença do Sr. Humberto Ruga, Presidente da Federação das Associações Comerciais do Rio Grande do Sul - FEDERASUL e do Sr. Vilson Noer, Diretor da Câmara de Dirigentes Lojistas de Porto Alegre - CDL.

O Ver. Nereu D’Avila está com a palavra e falará em nome do PDT.

 

O SR. NEREU D’AVILA: Sr. Presidente e Srs. Vereadores. (Saúda os componentes da Mesa e demais presentes.) Como diz o ditado popular: “Santo de casa não faz milagres!” Na verdade, este Vereador, pelas ligações antigas, desde os primórdios tempos do nosso IPA, de cuja família ipaense recebi delegação expressa para falar em nome desse querido Colégio, eu deveria ter feito essa proposição, mas por essas questões de, como disse, “santo de casa não faz milagres”, coube a tarefa ao ilustre Ver. Adeli Sell, nosso eminente colega da Bancada do Partidos dos Trabalhadores e, como a Câmara aprovou a proposição por unanimidade, a homenagem é de Porto Alegre, porque a Câmara Municipal é a sua síntese.

Como o ilustre proponente historiou as virtudes empresariais a que o Edson hoje está ligado, aos empreendimentos. Aqui estão figuras proeminentes do empresariado hoteleiro e similares. Vou apenas dizer que hoje atingimos um outro estágio na nossa sociedade. Outro dia, em uma reunião, alguém disse esta frase que hoje as mulheres recebem com constrangimento e que realmente está completamente defasada no tempo e no espaço: “Atrás de um grande homem sempre tem uma grande mulher.” Aquela história que hoje é inconseqüente e até soa como um retrógrado machismo. Mas eu diria esta frase hoje, e, para quem conheceu a mãe do Edson, como nós lá do IPA, digo: a frase só tem validade para ti, Edson, porque, realmente, atrás do Edson, que hoje é um grande homem, esteve uma grande mulher. Quando nós meninos, muito meninos ainda, o Edson e eu, chegamos ao IPA, a D. Dilma cuidava de um dos tantos dormitórios do internato. Havia cinco dormitórios, pequenos, médios, o do científico, e até um dormitório chamado “sétimo céu”, para onde iam os do terceiro científico. Ela, cuidando, sendo funcionária do IPA, ajudava a custear os estudos do Edson, porque eram oriundos de família pobre, e ela, viúva, tinha o Edson como filho. Então, realmente, a frase, nesta hora, cabe, até como uma homenagem àquela grande mulher. Eu tive o privilégio, inclusive, de estar no dormitório em que ela cuidava com tanto carinho de nós, outros meninos. Hoje, já com os cabelos encanecidos, estamos aqui homenageando o Edson, já vencidas aquelas etapas por que passamos, com dificuldades no início, constituindo família, depois; os bancos acadêmicos e, finalmente, o enfrentamento com a vida. Cada um aqui presente, dentro das suas atividades, são homens e mulheres vencedores.

Por isso o Edson, hoje, enquadra-se dentro daquilo que o nosso grande Alberto Pasqualini - que, aliás, foi laureado da Faculdade de Direito e um dos homens mais luminares deste Estado, independentemente de ideologia partidária, até porque ele preocupava-se com o social, preocupação que está acima dos partidos políticos. Todos os que têm sensibilidade de que devem dividir o nosso egoísmo, em sendo altruístas, pelo menos, em função de alguma coisa, em função dos nossos semelhantes, seja no campo da política, do empresariado ou religioso, em qualquer campo. O que não cabe, o que é absolutamente contrário à natureza humana é querer ficar no casulo do egocentrismo e pensar que somente existimos porque Deus nos criou. Deus nos criou junto com os outros, com as nossas companheiras e com a nossa sociedade, a quem devemos satisfações, porque nós, sozinhos, nada somos; sem ajuda, ninguém vai para frente, a começar pelos próprios familiares. Nesse contorno, Pasquallini dizia que a vida só tem beleza, sentido e significado quando guiada por um ideal de bondade, de justiça, de humanidade, que nos faça compreender as contingências e as misérias terrenas e nos impulsione, cada vez mais, rumo ao alto, onde existem os insondáveis desígnios na vastidão, na glória e na infinita bondade de Deus. Esse ideal buscado por cada um de nós, o Edson teve o privilégio de alcançar, no setor que escolheu, inclusive sendo pioneiro como a imprensa publicizou há quatro ou cinco dias; ele, como Secretário de Turismo em épocas outras tinha a visão do homem que não pensa em si, mas no benefício da sua comunidade, da sua sociedade, criando diversos setores na área do turismo que hoje, vinte, trinta anos depois - ele foi o primeiro Secretário de Turismo, criador da própria Secretaria - ainda estão na ordem do dia. Porto Alegre ainda debruça-se - o Ver. Adeli Sell é também um lutador nessa área - para ampliar o turismo da nossa Cidade, que tem um belíssimo rio, lago, ou o que for, a banhá-la com esse pôr-do-sol maravilhoso.

Portanto, o Edson hoje recebe a homenagem da Cidade e, particularmente de mim, que acompanhei - apesar de termos tomados rumos diferentes na vida. Como ele disse, nunca imiscuiu-se em política partidária, ao contrário da gente, imiscuiu-se também no seu mister que, no fundo e no largo, constitui-se numa vilegiatura de compromisso com ampliar os benefícios para a sociedade, como deve fazer um homem de visão e que não pensa que o seu umbigo é o terminal do mundo.

Devo ressaltar também que o Edson - talvez alguns não saibam, porque hoje está-se falando no Edson empresário, empreendedor, com visão de futuro em tantas áreas, inclusive no turismo - foi um grande jogador de basquete nas nossas memoráveis disputas do IPA e Rosário. Naquela época, havia muita rivalidade. No basquete dos Colégios IPA e Colégio Rosário havia times muito bons. Aliás, um dos colegas do Edson - o próprio Edson da Seleção Gaúcha -, o José Torrano Coelho da Costa, que entrou para a área do turismo depois, era campeão, casou com a Margot que também era campeã em atletismo. Essas histórias todas hoje não aparecem. Eu o admirava muito, até porque eu não jogava basquete pela obviedade da estatura, mas o Edson foi um grande jogador de basquete. Todos sabemos quantas alegrias ele deu a nossa torcida ipaense naqueles prélios memoráveis. Portanto, é necessário que se desvende a estatura total do homem que homenageamos.

Homenageando a ele homenageio a nossa querida e inesquecível Dilma; homenageio os seus familiares, e, inclusive os seus empreendimentos no Hotel São Rafael e na constelação dos hotéis aqui representados hoje pelos amigos do Edson.

Esse é o registro que eu faço, ampliando a homenagem e trazendo toda uma história que foi construída - e por isso a validade: o valor dos homens repousa nos atos que ele pratica, nas idéias que eles propagam, nos sentimentos que eles difundem.

O Edson sempre foi ligado à Igreja Metodista, íamos à Igreja Wesley, naquela época, na Rua Santa Cecília. Enfim, criamo-nos juntos, portanto, eu até falo com a autoridade de pessoa vinculadíssima à pessoa do Edson. Vê-lo hoje, sendo homenageado pela Câmara, da qual faço parte, eu me sinto quase como homenageado também, porque é a nossa geração, é o nosso Colégio, os nossos amores antigos, é o Americano, onde buscávamos as nossas namoradinhas e onde construímos a vida que todos constroem. Edson, vê-lo hoje sendo homenageado aqui em nossa Câmara, é um orgulho muito grande. Receba de nossa parte a nossa homenagem.

Para finalizar, a tua responsabilidade, como, aliás, é a minha, mas o homenageado és tu, e não eu, é de lembrar o nosso Hino do IPA, onde constam os seguintes versos: “A nossa escola, o nosso lar. Instituto Porto Alegre, nós seremos a tua honra e a tua glória e honraremos a tua história”. Posso dizer com tranqüilidade que tu honraste o Hino do IPA, a história do IPA e a glória que o IPA projetou em tantas gerações, com tantos homens espalhados por este Estado e por este País, mas homens da tua natureza, da probidade, da decência e que contribuíram para o desenvolvimento do nosso Estado. Tu és um exemplo lapidar. Portanto, receba as nossas homenagens, em nome da nossa Casa e do povo porto-alegrense. Muito obrigado.

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE (Paulo Brum): Além dos Vereadores que já falaram e dos que ainda irão se manifestar nesta Sessão, nós registramos a presença do Ver. João Dib.

Como extensão de Mesa, nós saudamos a presença da esposa do nosso homenageado, a Sr.ª Glenda Wiedemann Chaves, filhas, genros e neta do nosso homenageado.

Registro a presença do Superintendente do Plaza São Rafael, Sr. Victor Schimidt e a sua esposa Joanita Schimidt; do Sr. Marco Aurélio, chargista do jornal Zero Hora; representantes do Jornal do Comércio, Jornalistas Décio Azevedo e Carlos Alberto Pires de Miranda; Vice-Presidente da ACM, Sr. Luiz Fontanive Ferreira; Diretor da Escola de Hotelaria e Turismo do SENAC, Sr. Antônio Carlos Malater Gomes; Diretor do TSA Turismo da SKAL Clube, Sr. Eugênio Machado; representante do Instituto Metodista de Educação e Cultura, Professora Diney Adriana de Oliveira; Diretor do Instituto Porto Alegre, Sr. Edni Oscar Schroeder; Amigos, Diretoria do Hotel Plaza São Rafael, Sindicatos, Jornalistas e demais entidades presentes.

Concedemos a palavra, agora, ao Ver. João Carlos Nedel, que falará em nome da sua Bancada, o PPB, e, também, pela Bancada do PSDB.

 

O SR. JOÃO CARLOS NEDEL: Sr. Presidente, Srs. Vereadores. (Saúda os componentes da Mesa e demais presentes.) O turismo tem sido um dos setores da economia porto-alegrense a que tenho dedicado especial atenção, seja através de estudos e observações sobre o desempenho da atividade turística local, comparando-o com o de outras capitais brasileiras, seja pelo oferecimento de pronunciamentos específicos desta tribuna ou de artigos que publiquei na imprensa regular e na especializada.

É, portanto, com muita alegria que, representando o Partido Progressista Brasileiro, cuja Bancada tenho a honra de integrar, juntamente com os dignos Vereadores João Dib e Pedro Américo Leal e, ainda, representando o PSDB dos Vereadores Antonio Hohlfeldt e Cláudio Sebenelo, manifesto integral apoio e solidariedade à homenagem que hoje esta Casa presta a Edson Baptista Chaves, numa louvável iniciativa de nosso prezado colega Ver. Adeli Sell, a quem saúdo fraternalmente.

Edson Baptista Chaves pode ser apontado, sem qualquer contestação, como um dos homens que, quer na atividade pública, quer na atividade privada, mais tem feito pelo turismo, tanto no Rio Grande do Sul Grande do Sul como em Porto Alegre. Para exemplificar, basta lembrar que foi em sua gestão como Secretário do Turismo que tiveram início o Festival de Cinema de Gramado e a Califórnia da Canção. Mas essas realizações e muitas outras são amplamente apresentadas na exposição de motivos que propõe que lhe seja concedido o Título de Cidadão Honorário de Porto Alegre. Essa exposição, Ver. Adeli Sell, entretanto, embora pródiga em informações qualificadoras do homenageado, embora realçando suas virtudes pessoais, como cidadão e como profissional, não foi suficiente, como do mesmo modo não será suficiente este meu pronunciamento, para abranger todo o espectro de brilho e cor que caracteriza a personalidade de Edson Baptista Chaves.

Se o seu desempenho pessoal, familiar e social é louvável e reconhecido por quantos o conhecem - e quantos amigos estão aqui presentes, hoje! -, mais digno de apreciação e maior mérito tem a motivação que o determina. Pois é o amor, senhoras e senhores, o maior de todos os dons que o ser humano recebeu de Deus; depois da vida, é o amor, esse sentimento que é caminho de mão única, dadivoso e inexigente, que pode e há de ser encontrado como a força propulsora de cada objetivo, de cada ação e de cada caminho trilhado por Edson Baptista Chaves. Realmente, eu pesquisei e sintetizei que essa força é o amor. Conheço o Edson e sua família há muitos anos. Conheço-lhe a sensibilidade de artista e de amante da natureza. Conheço-lhe o ecletismo e a multiplicidade de interesses intelectuais e culturais. E reconheço a presença do amor à vida em cada momento seu. Não apenas à sua própria vida, mas também à vida que se manifesta e se expande na realidade exterior. A vida que advém da luz, da terra, da água e do ar. A vida exuberante das matas e dos campos, dos rios, mares e oceanos; do solo profundo e do espaço infinito. Amor à vida do indivíduo e à vida da sociedade. Amor à vida do homem e à vida da humanidade. É esse amor colocado em cada coisa que faz, é esse amor esbanjadamente aplicado nas causas que abraça, é esse amor altruísta que, generosamente, oferece à mão receptiva, que dá ao trabalho de Edson Baptista Chaves um diferencial de qualidade que o torna um dos mais merecedores de reconhecimento de nosso Município e faz, assim, plenamente justificado o título que esta Casa agora lhe concede.

Oxalá, senhoras e senhores, a vida empresarial, assim como a vida política, tivessem milhares de Edson Baptista Chaves.

Parabéns, Edson, pelo título que estás recebendo, que é também de tua família e de tua imensa legião de amigos, colegas e admiradores. E que Deus continue te abençoando. Muito obrigado.

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE (Paulo Brum): O Ver. Reginaldo Pujol está com a palavra pelo PFL.

 

O SR. REGINALDO PUJOL: Sr. Presidente e Srs. Vereadores. (Saúda os componentes da Mesa e demais presentes.) Respeitosamente, peço vênia a todos e peço que a Presidência dos trabalhos me compreenda, porque sou compelido, ao arrepio do protocolo e até mesmo ao arrepio da Regimento da Casa, a formular um protesto nesta hora. Esse protesto é dirigido ao Ver. Nereu D’Avila, que cometeu uma gravíssima incorreção, nesta tarde, ao afirmar que o nosso homenageado é um ex-jogador de basquete. É, com certeza, o protesto de todos aqueles que, na ACM, todas as segundas, quartas e sextas, reúnem-se em grupo e realizam permanentemente as suas exibições, onde brilha o talento desse grande “cestabolista” brasileiro, o eterno jogador de basquete Edson Baptista Chaves. O protesto está realizado. Quebra a cerimônia, mas restabelece a verdade.

Edson Baptista Chaves praticamente é eterno, não só nas suas qualidades de desportista, que o Ver. Nereu D’Avila, com a autoridade de quem conviveu com ele no Sétimo Céu, soube discorrer perfeitamente bem, mas que todos que convivem com ele há mais tempo - e agora, ultimamente aqueles que nas segundas, quartas e sextas-feiras, na hora do meio-dia, sistematicamente o encontram lá, na Rua Washington Luiz, nas proximidades da minha residência, na Associação Cristão de Moços - permanecem com aquela mesma visão.

Quando cheguei de Quaraí, há alguns anos - nem é bom contar -, o meu pai me levou no morro milenar, onde eu imaginava que iria estudar, no Instituto Porto Alegre, eu, que vinha do Instituto União de Uruguaiana - foi quando conheci a tua mãe, Edson, a Dona Dilma, que, se não me engano, era uma preceptora da casa, cuidando de uns meninos muito diligentes que por lá passavam, o Edson Machado, o Eurico, o Salgadinho, e todo aquele grupo. Lá conheci o Edson e, naquela ocasião, o Edson era a mesma pessoa que é no dia de hoje.

Neste meio tempo, de lá para cá o Edson foi duas vezes Secretário de Estado, foi um brilhante, notável colaborador da SUDESUL, no momento da sua formação, foi colega do Dr. Luiz Dexheimer, na METROPLAN, Secretário Substituto de Obras do Governo do Rio Grande do Sul, junto com o seu amigo Luiz Gonzaga Fagundes, que lhe pede que eu lhe transfira um abraço, e lhe faça a homenagem, e durante todo este tempo, com todo este acúmulo haveríamos de pensar que o Edson é um homem que não faz mais nada na vida, afinal de contas já foi tudo isto, então deve estar, hoje, gozando de uma agradável aposentadoria, criando problemas para o Governo do Estado, para remunerá-lo adequadamente, nos padrões que um homem com este grau de qualificação consegue, normalmente, lograr na aposentadoria. Ledo engano. O nosso bom Edson, hoje, é um dos tantos aposentados pelo Instituto Nacional de Serviço Social, e aqueles que têm este privilégio sabem quais são os limites deste privilégio. Por isto, vejo com muita satisfação que este dinâmico Vereador do Partido dos Trabalhadores Ver. Adeli Sell, tenha tido esta lembrança, de destacar um cidadão que, depois de ter feito todo este trabalho na vida pública, e dela não ter-se locupletado, tem energia suficiente para ir para as atividades empresariais, dirigir o Estaleiro Só, hoje ser um dos integrantes da equipe diretiva desse grupo pioneiro do turismo no Rio Grande do Sul, esse qualificado grupo de ação na área de hotelaria, que é o Grupo Plaza, e estar, aqui, recebendo, com toda justiça, as homenagens do Legislativo de Porto Alegre, que lhe outorga a cidadania, que conquistou pelo que já fez pela Cidade e pelo que realiza como elemento integrado na comunidade de Porto Alegre.

Eu fico muito feliz que isso aconteça, eu que sou liberal, o único liberal assumido nesta Casa. Fico absolutamente satisfeito quando eu vejo que os méritos das pessoas são reconhecidos, quando eu vejo que se destacam, numa sociedade, aqueles que trabalham, que acreditam no trabalho, que têm convicção cristã e que sabem que não é só rezando ou dobrando os joelhos que adoramos a Deus, mas, acima de tudo, sendo responsáveis. E eu penso que, nesse particular, tenho algo em comum com o Edson, porque nós dois aprendemos - ele no IPA e eu no Instituto União de Porto Alegre - que a liberdade, essa liberdade que me faz liberal, só tem sentido quando ela é vivida com responsabilidade. Essa liberdade com responsabilidade eu aprendi em Uruguaiana, no Instituto União, quando me disseram - eu que era um interno - que eu poderia sair da escola na hora em que eu bem quisesse, desde que eu assumisse essa responsabilidade; que eu era livre para fazer isso, já que o muro não tinha mais do que 50cm. Essa é uma formação que eu incuti na minha vida. E quando eu vejo que alguém que vem das mesmas raízes que eu venho, quando eu vejo que o filho da D. Dilma recebe esta homenagem da Cidade de Porto Alegre, com justiça e merecimento, sei que ainda não há nenhuma razão para descrermos do futuro da humanidade.

Ainda há um espaço amplo para se reconhecerem os méritos daquelas pessoas que se fazem merecedoras desse mérito. A honraria que hoje se concede ao Dr. Edson, decisão unânime desta Casa que acompanharam o Ver. Adeli Sell na iniciativa, é mais da Casa, que passa a tê-lo na galeria dos seus Cidadãos Honorários, do que propriamente de quem recebe. Ele recebe, e provavelmente haverá de ostentar este título com orgulho perante seus familiares, sua esposa, suas filhas, seu filho, sua neta, aqui presentes, porque é um homem despojado dessas situações que, muitas vezes, se transformam em capacidades criativas, qualidades pessoais e se transformam em elementos de servir o trabalho pela comunidade.

O nosso amigo Edson, o ex-Secretário de Obras do Estado, o ex-Secretário de Turismo, o Diretor da METROPLAN, o funcionário exemplar da SUDESUL, o Diretor do Estaleiro Só, do Grupo Plaza, é, acima de tudo, um bom cristão que na ACM pratica esportes às segundas, às quartas e às sextas-feiras, durante o horário de meio-dia e é ali que ele fica feliz, como feliz fica na sua família.

Por isso, meus senhores e minhas senhoras, eu nem vou fazer o meu segundo protesto que eu deveria fazer no dia de hoje, que é o protesto de ser o último Vereador a falar nesta oportunidade e, obviamente, ver contaminada a oportunidade de aproveitar os excelentes subsídios que o Dexheimer, o Fagundes, que o Edson Machado, pelo telefone, me passava lá de Uruguaiana e que todos aqueles meus amigos comuns me haviam oferecido para utilizar nessa homenagem. Eles foram com mais brilho utilizados pelos oradores que me antecederam. A mim, resta-me fazer o que faço com grande satisfação: é um registro que eu penso que vai dizer respeito ao teu coração. Eu lamento que algumas pessoas não estejam conosco aqui. A Dona Dilma gostaria de ver que tu continuas usando esse relógio, e tu sabes com quanto amor ela te deu esse relógio e, de outro lado, meu irmão, tem alguém que eu sei que está sentado do teu lado, recebendo essa homenagem nesta hora; não é o Miudinho, que tu fizeste Rei Momo de Porto Alegre naqueles idos carnavais: tu sabes que eu estou lembrando do Melechi, do nosso grande irmão Melechi, que eu sei que junto com a tua família, junto com a Dona Branca recebe contigo essa homenagem, porque te ajudou e foi por ti ajudado a criar essa imagem que vocês e todos nós reconhecemos em ti, de um homem de bem, de um exemplar chefe de família e sobretudo, de cidadão que mais do que nunca, nem a lei precisava dizer, é um verdadeiro Cidadão de Porto Alegre. Muito obrigado. (Palmas.)

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE (Paulo Brum): Procederemos, neste momento, à entrega do Título Honorífico de Cidadão de Porto Alegre e da Medalha ao homenageado, Sr. Edson Baptista Chaves.

 

(É feita a entrega do Diploma e da Medalha ao homenageado.)

 

O homenageado, Sr. Edson Baptista Chaves, está com a palavra.

 

O SR. EDSON BAPTISTA CHAVES: Sr. Presidente, Srs. Vereadores. (Saúda os componentes da Mesa e demais presentes.) Meus amigos considerem-se saudados com essa palavra fantástica que é “amigo”.

Hoje estou sendo adotado pela Cidade que adotei há mais de cinqüenta anos.

Quero convidar as autoridades e amigos que me honraram com suas presenças, a se deixarem conduzir, através das lembranças pela mão do menino de seis anos, que em 1945, deslumbrava-se com a silhueta da chaminé do Gasômetro e das torres da Igreja das Dores. Eu chegava com meus pais, vindos de Rio Grande, já não lembro se a bordo da Geni Naval ou do Cruzeiro. Impressionou-me muito saber que viajava em uma dessas duas embarcações que, na época da procissão dos Navegantes, alternavam-se na condução da padroeira. Ali, na margem do rio, atracando no cais, olhando a silhueta da Cidade, iniciou-se o meu caso de amor com Porto Alegre.

Tenho a convicção de que o verbo mais importante em qualquer idioma é o verbo “fazer”. Talvez seja a minha característica de não deixar passar oportunidades de fazer é que tenha me colocado na honrosa situação de receber a distinção que me é conferida.

Permitam-me, agora, conduzi-los, através de minha história de conjugação do verbo “fazer”, relatando alguns feitos e fatos que marcaram minha vida. Não se assustem, é apenas um resumo. Por isso, desculpem-me; talvez, alguns fatos e pessoas que foram importantes não serão citados.

Meu pai era artesão da Viação Férrea. Comecei cedo a trabalhar para ajudar a família, como é normal entre filhos de operários. Aos doze anos, mais ou menos, tornei-me baleiro do Cine Teatro Capitólio, ali na Av. Borges. Eu era daquelas crianças que provocavam o comentário dos adultos; “Bah, mas como esse guri é comprido!” e o uniforme que me deram, usado pelo baleiro que me antecedeu no emprego, era curto para mim. Não me importei nem um pouco com isso, pelo contrário, fiquei muito feliz e orgulhoso, não só por estar trabalhando, como por estar, pela primeira vez na vida, usando calças compridas. Pensando bem, nem tão compridas eram, mal tapavam minhas canelas. Sou, portanto, remanescente das gerações de meninos que tiveram os joelhos congelados no inverno, pois, por costume e economia, nos faziam vestir calças curtas até a adolescência. Nos primeiros dias do novo emprego, tudo era novidade, e eu achava o máximo poder assistir aos filmes de graça, aguardando os intervalos da sessão para, em alto e bom som, anunciar minha atividade e estoque: “Baleiro: balas, chocolate Diamante Negro, bala Guri, pastilhas.” Logo percebi que, depois de cinco sessões seguidas, a maioria dos filmes perde a graça, e meu entretenimento, durante as sessões, passou a ser assistir aos filmes da segunda galeria, bem na frente, me divertindo ao ver como a imagem fica deformada vista daquele ângulo. A curiosidade de ver todos os ângulos e deformações possíveis da mesma imagem já eram, talvez, reflexo da minha fascinação pelo desenho.

Sempre gostei de desenhar e, como tinha alguma habilidade, passei depois a trabalhar no escritório de um desenhista de publicidade. Fazíamos os croquis dos rótulos para caixas de sapato, depois a arte final, que era enviada para a fotogravura fazer o clichê. Cabia a mim, com a mão firme de 14 anos, a missão de desenhar as letras bem pequenas em nanquim preto, letras que depois eu contornava com têmpera branca. Era um trabalho de precisão e paciência que me despertou para a beleza e a emoção da arte e logo eu já estava fazendo os desenhos das ilustrações principais. O meu patrão começou a ensinar-me também um pouco da técnica da pintura a óleo.

Desde o fim da década de 1940, nós morávamos em uma das casas que a Viação Férrea tinha para os seus operários, depois da Ponte de Pedra e, ao lado desta, existia, naquela época, a ponte de ferro, por onde passava o carro-motor, cuja oficina era na Ilhota. O nosso endereço era na Estação do Riacho nº 12. Hoje, essa paisagem é o Largo dos Açorianos. Quando eu era menino, o arroio Dilúvio ainda não havia sido canalizado, passando por baixo da Ponte de Pedra e da ponte de ferro, correndo em seu leito natural, entre a Vila Operária da Ilhota e a Rua Pantaleão Telles, então zona de meretrício, sendo hoje a respeitável Rua Washington Luiz.

Ressalto para os meus ouvintes que hoje percebo que a nossa situação sócio-econômica era precária, mas, naquela época, eu nunca me senti pobre ou carente. Eu tinha pai e mãe amorosos, honestos e trabalhadores, os quais valorizavam o estudo que não tiveram e se preocupavam com a minha formação. Eu tinha um lar, escola, emprego. Eu tinha até calças compridas! E o Guaíba, passando nos fundos das casas da Viação Férrea, garantia o lazer. Às vezes, nós improvisávamos embarcações à vela e nadávamos até as ilhas, para preocupação das mães que ficavam ansiosas, rezando na praia, aguardando a nossa volta. Nas noites de verão, grupos musicais reuniam-se nas esquinas da Ilhota. Ali, escutei Lupicínio Rodrigues e aprendi a amar a música brasileira. Não, eu não era pobre.

A Associação Cristã de Moços, a ACM, já tinha construído a sua atual sede, na, então, Pantaleão Telles, logo na altura da ponte de ferro, e, desde 1947, o Dr. Antonio Morales chefia o seu ambulatório e posto de puericultura. O meu primeiro contato com a ACM foi quando eu acompanhei a minha mãe para levar ao ambulatório uma criança vizinha, moribunda, que a doença e a pobreza estavam matando. Infelizmente, o socorro procurado foi tarde demais. Foi o meu primeiro encontro com a morte. Tenho viva na memória a lembrança do caixãozinho no velório e do pedido do Dr. Morales que tantas vezes ouvi nos anos seguintes: “Tragam as crianças e as mães, principalmente as mães. Se conquistarmos as mães para o trabalho da ACM, elas trarão os seus filhos cedo para o nosso convívio e estaremos formando o menor com os objetivos da ACM: alma, corpo e mente em equilíbrio.”

Comecei, então, a freqüentar a ACM no programa de atendimento aos menores carentes e recebi a influência formadora de pessoas como o Secretário Geral Ernesto Oppliger, que dedicou a sua vida ao ideal acemista. Mais tarde foi também na ACM que aprendi sobre a vida e obra de Albert Schweitzer, médico, músico, escritor e teólogo, que dedicou sua vida às populações carentes do Gabão, na África. A filosofia cristã e humanista de reverência pela vida, pregada por Schweitzer, moldou meu caráter.

Alma, corpo e mente.

Comecei a jogar basquete em 1949, na Praça do Alto da Bronze. A Zero Hora do último dia 30 de março do corrente ano, na página Almanaque Gaúcho, publicou uma foto do primeiro time campeão estadual infantil de basquete em nosso Estado, em 1953, e lá estou eu com a camiseta 14 do meu querido Esporte Clube Cruzeiro.

Fiz o curso primário em diversas escolas e grupos escolares, pois nos mudávamos muito até nos estabelecermos no Riacho. Comecei o Ginásio no Colégio Nossa Senhora das Dores, na época em que a entrada era pela Rua dos Andradas nº 769. Lembro que estava tocando corneta em um ensaio da banda quando tudo parou com a notícia da morte do Presidente Vargas e, dispensados da escola, encontramos agitações na ruas. Meu primeiro contato com as manifestações do povo.

Meu pai faleceu, repentinamente, em 1955, aos quarenta e cinco anos. Comecei, então, a trabalhar na ACM, onde já atuava como líder voluntário. Por orientação e indicação de amigos acemistas, minha mãe e eu fomos contratados pelo Instituto Porto Alegre, o IPA. Iria estudar, morando e trabalhando no internato, e minha mãe também residiria ali, cuidando da Seção de Menores. Foi uma solução providencial, pois com a morte de meu pai terminava o nosso vínculo com a Viação Férrea. Precisávamos desocupar a casa e não tínhamos para onde ir. Não vou me deter sobre minha vida no IPA, que daria um livro inteiro, anos de descoberta, de formação, de novas amizades que estão durando a vida inteira, influência amiga e segura de tantas pessoas que, se eu começasse a listar nomes, certamente, estaria omitindo alguns e sendo injusto. Quero, então, apenas simbolizar minha admiração e gratidão homenageando a memória do Reitor Daniel Lander Betts. Quem teve o privilégio de conhecê-lo compreenderá minhas palavras. Estudei, trabalhei, joguei basquete, fiz teatro, pintura, mosaicos, cenários, ajudei a editar o anuário Colunas, orientei o semi-internato, descobri o Colégio Americano, onde encontrei a Glenda, minha querida e amada esposa há trinta anos.

Após concluir o Curso Técnico de Contabilidade no IPA, cursei Ciências Políticas e Econômicas na Pontifícia Universidade Católica, ainda trabalhando no IPA. A PUC era na Praça Dom Sebastião, ali na Av. Independência. E uma boa lembrança que tenho é das intelectualmente estimulantes aulas de filosofia com o Pe. Ernesto Greiner; terminado o horário da aula noturna, íamos, alunos e professor, para o Bar Líder, continuar a discussão, que passava a ser regada pelo superchope chamado “papa-fila”, em alusão aos novos ônibus articulados que estavam, então, chegando a Porto Alegre. Observando o trabalho que estava sendo executado pela Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste - a SUDENE -, e lendo Celso Furtado, me interessei pelo desenvolvimento econômico.

Já funcionário do Ministério do Interior, fiz um estágio no nordeste, aprendendo a fazer projetos econômicos e a sua análise. Na volta, fui convidado pela novel UNISINOS, em 1968, para criar e lecionar a cadeira de Elaboração e Análise de Projeto Econômico. Eu já estava, então, trabalhando na Superintendência de Desenvolvimento da Região Sul - SUDESUL -, e chefiei por aquele órgão o projeto Plano Regional de Turismo. Graças a isso fui convidado pelo Governador Euclides Triches, a criar e ocupar a Secretaria Estadual de Turismo. Ele era uma liderança que compreendia e tratava o turismo como uma atividade econômica que precisava ser ordenada para trazer benefícios à população. Euclides Triches, cidadão íntegro que não buscava glórias, fama ou fortuna, apenas servir à Pátria, uma das pessoas que mais admirei. A estrutura da Secretaria de Turismo foi inspirada no modelo espanhol, a partir da experiência dos técnicos que haviam trabalhado na SUDESUL, uma Secretaria ágil, conservando-se como uma pequena equipe com poder de decisão, uma Secretaria com a missão de fazer com que outras Secretarias incluíssem enfoques turísticos em seus projetos. Como o dinamismo do setor turístico requer flexibilidade empresarial, criou-se a Companhia Rio-Grandense de Turismo, com características executivas; e o órgão consultivo de assessoramento do Secretário de Turismo, a Comissão Intersetorial de Turismo – CITUR, organismo onde trabalhavam juntos governo, entidades e iniciativas privada.

Nessa época nasceu nossa primeira filha, Adalgisa, hoje, Promotora de Justiça, casada com Luciano Brasil, também Promotor de Justiça, pais de Luiza, a coisa mais fofa que me aconteceu na vida, nascida em 1999.

Nessa fase um fato pitoresco, envolvendo Porto Alegre, se relaciona ao carnaval: Vicente Rao, que por muitos anos fora Rei Momo oficial, havia falecido e, substituir uma pessoa com tanto carisma estava se mostrando uma tarefa complicada para o Conselho Municipal de Turismo, o COMTUR. Feito o concurso, a escolha recaiu sobre Sílvio Lunardi Martini, o “Miudinho” que assim contou o causo em entrevista a Zero Hora, em 1988, após muitos anos de reinado momesco: “A coisa aconteceu quando fui estudar na UNISINOS, lá eu tinha um professor que foi Secretário de Turismo, o Edson Baptista Chaves, que era muito brincalhão e me lembro que lá por outubro, num intervalo de uma das aulas, eu resolvi fazer uma brincadeira com ele, dizendo: “Se o teu pessoal me conhecesse, eu substituía o Rao, numa boa. Ele parece que levou a coisa a sério, e mandou que eu passasse um dia no escritório dele. É claro que passei, e fui apresentado ao Pércio Pinto que era Presidente do COMTUR. Fui dos primeiros a me inscrever.” Eu só podia levar a tal brincadeira do Miudinho muito a sério, pois a agitação alegre que ele conseguia criar a sua volta, no trajeto de ônibus que fazíamos até a UNISINOS, já havia chamado a minha atenção. Como o tempo provou, foi uma escolha acertada.

No início de 1973 fui levado a ser Secretário da Indústria e Comércio do mesmo Governo Triches, com as missões de estruturar a Secretaria, atrair investimentos e, para tal, implantar o Fundo Operação Empresa FUNDOPEM, e construir Distritos Industriais. Na época foram iniciados os de Cachoeirinha e Gravataí. Acredito que tenha sido esse trabalho que levou a FIERGS a me conceder a medalha do mérito industrial em 1991. Quando estava na Secretaria de Indústria e Comércio, nasceu nossa segunda filha, Gabriela, hoje doutoranda de Biologia na UNICAMP, casada com o também biólogo e doutorando Cláudio Patto.

Ao término do Governo Triches, em 1975, voltei de certa forma às minhas origens de papa-areia, nascido em Rio Grande, sempre ligado à água. Eu fui construir navios como Vice-Presidente do Estaleiro Só S/A., empresa que, como sucessora de Só e Companhia, fundada em 1850, era então a mais antiga indústria gaúcha em funcionamento. Porto Alegre não pode esquecer que, na época, aqui foram fabricados navios de exportação para Grécia, Dinamarca, Egito e Espanha. Nos lançamentos dos navios, acompanhávamos com orgulho o desempenho da Banda da Brigada Militar tocando o Hino Brasileiro e do País da nova embarcação. De operários até o Presidente da empresa, todos nos emocionávamos ao ver o pavilhão nacional sendo hasteado no pátio do Estaleiro ao lado da bandeira estrangeira sobre a qual navegaria a nova embarcação. Nessa época, nasceram mais dois filhos, primeiro Carolina, hoje administradora de Recursos Humanos, depois, Rodrigo, atualmente estudando de Artes Plásticas na UFRGS.

Participei também da administração da Coester S/A, fabricante de equipamentos eletrônicos para navio. Trabalhamos no projeto do aeromóvel que, apesar de técnica e economicamente viável, infelizmente não foi adiante. Houve crítica, fruto de interesses contrariados ou mesmo inveja.

A seguir, como Diretor-Superintendente da Fundação Metropolitana de Planejamento - METROPLAN continuei no meu aprendizado em lidar com o complexo tema que é uma cidade. Fiz isso participando do Conselho de implantação do TRENSURB, administrando projetos como a implantação dos corredores de ônibus, do cadastramento metropolitano, da pavimentação de ruas em zonas de baixa renda que, feita a pavimentação, logo se valorizam e eram vendidas, deixando de ser de baixa renda. Voltei ao Estaleiro Só na época em que foi feita a única embarcação de transporte químico projetada e construída no Brasil, para orgulho do Estaleiro de Porto Alegre, o navio Guarita, que atende o Polo Petroquímico transportando xileno, tolueno e benzeno.

Em 1992, voltei ao setor de turismo, convidado por João Schimidt e seus filhos Victor e Henrique a integrar a administração da Rede Plaza de Hotéis, há mais de quarenta anos padrão de referência em qualidade de serviço hoteleiro no Brasil. Entre as novas oportunidades de fazer que a nova atividade me proporcionou, quero ressaltar duas. A primeira, ligada à observação de aves, na qual trabalhamos junto com a PROAVES e a Fundação Zoobotânica, divulgando essa atividade como hobby, dentro da idéia de conhecer para amar, para querer preservar.

Outra oportunidade que não pude deixar passar, e me deixou feliz em poder fazer algo, foi a luta pela criação do Convention & Visitors Bureau de Porto Alegre. Uma organização que tem por objetivo, através de um trabalho conjunto dos setores público e privado, vender Porto Alegre como destino turístico. São seus instituidores: FEDERASUL, FIERGS, FESERVIÇOS e Câmara de Turismo do Rio Grande do Sul, unidos para uma ação conjunta.

Essa tem sido a minha vida, sempre procurando a oportunidade de fazer alguma coisa, conforme meu pai me ensinou.

Para encerrar, quero agradecer a duas pessoas que simbolizam muitas. A primeira delas representa os amigos que me auxiliaram nessa jornada, é Walter Seabra, um segundo pai, um pai-amigo, uma pessoa que, como meu primeiro pai, tem enorme entusiasmo pela vida e o dom de fazer e cultivar amigos.

A seguir, agradeço os Srs. Vereadores, na pessoa de Adeli Sell, o título que me concedem e que muito me honra. Muito obrigado. (Palmas.)

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE (Paulo Brum): Para encerrar, agradecemos a presença de todos e os convidamos para, em pé, ouvirmos o Hino Rio-Grandense.

 

(Executa-se o Hino Rio-Grandense.)

 

Estão encerrados os trabalhos da presente Sessão Solene.

 

(Encerra-se a Sessão às 19h12min.)

 

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